Em 2019, quando decidimos que iríamos imigrar, uma das coisas que já definimos é que para maior liberdade eu iria empreender. Naquele momento eu e meu marido Felipe trabalhávamos na mesma multinacional, motivo pelo qual não havíamos definido ainda em que tipo de negócio nos aventurar.
Em fevereiro de 2020 me desliguei da empresa e no mês seguinte a pandemia iniciava, ela atrasou todo o nosso processo de visto, o que era para durar 3 meses, durou 9. Presos em casa, entre tarefas do lar, mergulhei em cursos online de marketing digital já pensando num futuro de empreendedorismo em Portugal.
Nosso visto finalmente chegou um dia antes do natal, um presentão! Compramos a passagem e passamos o réveillon de 2020 para 2021 no avião.
Voltando no tempo quando eu ainda estava no Brasil, eu escutava falar sobre as lojas de Cannabis em Portugal que vendiam óleos e ervas de CBD, e eu achei incrível imaginar que eu iria morar num lugar onde uma loja como esta era totalmente legal, tudo bem que esse tema sempre foi atraente pra mim, mas acho que foi aí que a vontade de ter uma loja de Cannabis começou.
No Brasil, tenho uma amiga que trata a filha com epilepsia severa com óleo de CBD há anos e eu conhecia bem a evolução da criança quanto a melhora de qualidade de vida. Foi a primeira vez que ouvi sobre o CBD. Coincidência (ou não), assim que cheguei em Portugal, num dos primeiros dias que estávamos em busca de uma casa para morar batemos de frente com uma loja destas, mas não pude entrar porque estávamos em pandemia.
Dias depois, achamos um apê. Agora era pensar em trabalho, Felipe 4 meses depois estava empregado na mesma empresa que trabalhávamos no Brasil e eu sinceramente não tinha dúvida, eu queria trabalhar com Cannabis.
Comecei então uma pesquisa sobre as franquias do ramo, pensávamos que seria mais interessante abrir uma loja como franqueado do que como uma loja independente, e foi assim que fizemos, e sem muita enrolação digo: não foi uma boa ideia! E foi por isso que depois de 1 ano e 3 meses rompemos o contrato com a franquia por falta de cumprimento de inúmeras cláusulas.
Sem o suposto apoio da franquia no que tange a formação dos franqueados, tive que buscar conhecimento sozinha, mas não posso dizer que foi algo super difícil, os estudos científicos estão aí, à disposição para quem quiser, há também pessoas neste mercado que dedicam as suas vidas em prol do uso medicinal da cannabis, e as que lutam pela reparação social e racial que envolve a planta, estas pessoas são muito solicitas e partilham muito conhecimento.
Acreditem, uma das melhores coisas do mercado canábico são as pessoas, elas são maravilhosamente incríveis, criativas e humanas. Empreender no mercado canábico é desafiador, o tabu ainda é grande, e estamos em Portugal, um país conservador, mas ao mesmo tempo traz uma realização pessoal muito grande, me sinto parte integrante de uma revolução, de algo historicamente grande.
É com um prazer imenso que lido no meu dia a dia com pessoas de todas as idades e os ajudo de alguma forma a melhorarem suas vidas. São casos de ansiedade, fibromialgia, altismo e tantos outros males que essa planta ajuda com relação a abrandar os sintomas e até mesmo como prevenção.
Até quando estarei aqui? Não sei, empreender não é garantia eterna de nada, mas pensando bem, o que é garantido nessa vida?
Empreender pra mim hoje é sobre ter propósito, e enquanto estiver me fazendo feliz, é não parar.
Miriã Machado (Hervva)